9 de jan. de 2013



 
 
...Queria que algum canto do mundo me acolhesse.
 
E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio.
Eu queria que existisse um canto do mundo que nunca me dissesse "hey, você se expõe demais" e que me deixasse ser assim e apenas me deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo resolvesse me magoar,porque eu sou briguenta, mas sou mais sensível que maria-mole na frigideira...eu queria ir para um planeta onde não existisse tempo de beijar e tempo de pirar...onde mesmo se amando,a gente desiste...e sai numa boa,sem dor...sem remorso...sem coração partido que dói as costelas em cada respirada.

E eu pudesse, de repente, gritar bem alto, que me irrita esses milhares de sons tecnológicos e a mania besta de receber toda a culpa em cima de mim...e para mostrar que meio mundo procura,enquanto eu não posso procurar porque a cartilha da vovó que casou...dizia que a mulher nunca pode procurar o homem se não quiser ser usada por ele.
Eu queria mandar a merda a cartilha da vovó...e queria tirar essa voz do meu pai da minha cabeça, dizendo "minha filha, homem não gosta dessas coisas". Que coisas? amar demais,ser verdadeira demais,falar a verdade,dizer o que pensa,enfrentar.

Eu já falei antes...e vou repetir,eu sei que sou exatamente o que 98% dos homens não gosta ou não sabe gostar...homens adoram uma sonsa. Adoram. Eu falo o que penso, abro as portas da minha casa, da minha vida, da minha alma, dos meus medos.
Basta eu ver um sinal de luz recíproca no final do túnel que mando minhas zilhões de luzes e cego todo o mundo.
E que se dane a natureza gritando no meu ouvido que não posso ser assim. Que a boa fêmea sabe esperar nove meses, portanto deve saber esperar uma ligação ou um sinal de "pode avançar no joguinho".
Eu não sei esperar nada...e a natureza gritando no meu ouvido que então, já que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo!!
Porque é preciso saber viver. Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo...e a gente ainda precisa ser superequilibrada para ganhar alguma coisa da vida.
Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um desconto para tbm ser louco de vez em quando.
Quem é essa natureza maluca, quem é esse mundo maluco? Quem são esses doidos que exigem tanta certeza e tanta "finesse" e tanta postura da gente?
Eu só sei curar uma vontade de me entorpecer de alguém quando sugo a pessoa até a última gota. O problema é que, nesse mundo sem graça com celulares que apitam e mensagens no e-mail  que apitam e policiais mentais que apitam "hey, segura a onda, não deixe ele perceber que pode comandar seu coração mole", ninguém mais sabe nem sugar e nem ser sugado até a última gota.
Fica uma droga de um joguinho superficial de trocas superficiais...e ai de quem resolva sair disso...vai ser tachado de louco de pedra. Maluco.....porque é pra poucos assumir tudo,com o peito aberto!

E as meninas sonsas se dando bem, e eu dormindo abraçada com o travesseiro sem dono da cama de casal.
Queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse...e me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio....e repetir e repetir e repetir o erro...e jurar que da próxima vez eu serei normal...e jurar que da próxima vez eu obedecerei a natureza, meu pai, a cartilha da vovó ou as meninas sonsas.
E virar a rainha dos 98% de homens que não sabem o que fazer com uma pessoa que nem eu....e depois chutar todos eles, porque no fundo tô pouco me lixando pra essa maioria idiota.
 

Pode até ser meio solitário correr contra a maré, mas como é gostoso saber que se foi inteiro,em tudo....até o último segundo.



 ...



3 de jan. de 2013






...Ela? Tem 8 letras no primeiro nome, gosta de Legião, lê Caio Fernando Abreu, ariana, mal educada, fala palavrão, é mandona, é birrenta, marrenta, fria, insensível, imprevisível, muitas vezes indelicada, é sarcástica, ciumenta, orgulhosa, a dona da verdade e não merece, nem mesmo, um poema meu.
É também muito linda, tem uma voz deliciosamente agradável, um jeitinho que instiga e ao mesmo tempo acalma.
É tudo muito louco o que ela me causa e como causa.
Sabe dominar como ninguém meus pensamentos, prende minha atenção sem o mínimo esforço e aí não existe mundo, se não o mundo que ela me leva.
Me faz nascer todos os dias só para amá-la e nunca precisou pedir o meu amor, chegou e tomou o que já era seu.
Mulher que me faz dela e nunca dá certeza de que é mesmo minha, tenho assim a eterna necessidade de conquistá-la.
Me provoca ira com seus palavrões, me magoa, contraria, subestima, maltrata, desconfia e pisa forte quando quer.
Enquanto faço o bobo, compondo canções, escrevendo para ela, como agora.
Deveria deixa-la, não? E quem disse que eu já não pensei? Mas antes que eu consiga tentar me afastar, sou impedido por um sentimento que domina cada partícula de mim, um tal de Amor por Ela.
Pois é, caros amigos, é ela que eu amo, com todos os seus defeitos tortos.
E como amo, amo muito mesmo.


.Caio F. Abreu.




Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto.
Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação.
Isso pode servir melhor para outra pessoa.
Hora de deixar ir....alguém precisa mais do que você.
 Se livrar...deixar pra trás.
Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega.
 Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve.
 Perda de espaço, tempo, paciência e sentimento.





Eu nunca te preferi por causa dos seus trechos de livros, músicas, mãos dadas, dedicações corporais, gostos para poesias, diálogos inteligentes e comidas entregues em casa.
Eu nunca te preferi por causa das suas histórias de aventuras ou do seu sucesso enquanto jovem talentoso e gato com carrão a apartamento no metro quadrado mais caro de São Paulo.
Eu nunca te preferi como uma menina que te prefere porque você é um personagem muito trabalhado para ser preferível.
Tudo isso era só uma boa música e uma boa fotografia e uma boa direção e um bom roteiro.
 Mas eu amava o negativo preto e branco e de ponta-cabeça. A fagulha de ideia da sua existência.
O seu nariz aristocrático e a sua boca corada mesmo quando você empalidecia no começo da noite.
Eu amava você dormindo, de barriga pra baixo, os cachos espalhados no meu nariz, o suor na nuca secando ao longo da noite, sua barriga enchendo de ar de forma errada porque você respira mal.
Eu amava você chamando seu bruxismo de vampirismo e depois dizendo que eu te deixava nervoso.
Eu amava o medo que você tinha de eu te amar em tão pouco tempo e do sentimento ser grande o suficiente para eu perceber, colorir e decorar suas minuciosidades desimportantes.
Amava sem você fazer nada, só respirando pesado, só lutando com seu peito angustiado, só perdido, só tentando ficar mesmo não sabendo como...


.Tati Bernardi.

“Eu vou sussurrar no seu ouvido, vou
te dizer bem baixinho : fica aqui.
Vou
te pegar pela mão, te levar pro nosso
canto, sussurrar outra vez : fica aqui.

Eu preciso do cheiro da sua pele, da
sua mão que me aperta, do seu laço
que me enfeita, me ajeita, me faz sua.
Eu preciso da sua risada sem graça,
do seu pescoço mastigável, da sua
alegria momentânea.
Me pego
gostando tanto da sua inconstância,
fragrância, o medo que você sente de
chegar mais perto.
Eu preciso da sua
cama bagunçada, da sua mania de
usar três calças nos dias de frio, do
seu sorriso que fica passando como
um filme na minha mente, que chega
á ser quase que indecente pensar
tanto em você assim.
Fica aqui, que
do meu coração resolvo eu, que das
feridas que você deixará trato eu,sempre tive colapsos de amnésia
voluntária, você sabe.
Deixa que
depois eu me arrumo em algum
canto desse mundo, arrumo uma
música pra espantar seu som,
encontro outro abraço que me
acolha.
Agora só fica aqui, que do
meu desapego me livro, me viro, me
vingo de todas as noites de saudade
com um cafuné seu que bagunça
todo o meu cabelo.
Te olho séria
como nunca te olho, te devoro,
porque não preciso mais de rodeios
para chegar ao ponto.
É isso, então
que seja. Que sejamos, que tenhamos
a nós, que fiquemos á sós.
Que haja amor.“


Para os grandes, eu penso.
E viro a cabeça pra pensar em outra coisa.
É mais feliz gostar, amar é pra quem pode...mas você ou a vida ou sei lá. Insiste.
 E então chega enorme...e só me resta rir que nem quando vejo um bebê muito pequeno e lindo.
 Você ri...vai fazer o quê? É o milagre maravilhoso da vida e eu ficando brega e cheia de medo e cheia de vontade de te contar tantas coisas e nem sei se você gosta de ouvir meus atropelos...muito amor.
E então fico querendo não trair a beleza.
Com você sinto a fidelidade de ser tranquila.
 Um pacto de paz com o mundo...pra não me afastar de você quando estou longe.
E é impossível então que os martelos do apartamento de cima sejam realmente martelos.
 E é impossível que as chatices do dia sejam realmente sem solução.
E os outros caras, aviso, olha, é amor. É amor...ainda que eu quisesse, não consigo mais nem um centímetro pra você. Desculpa.
O amor é terrivelmente fiel...porque ele ocupa coisas nossas que nem existem nos sentidos conhecidos.
É como tomar água morna depois de ter engolido um filtro inteiro de água geladinha. Ninguém nem pensa nisso. Muito amor.
De um jeito que era mesmo o que eu achava que existia....e é orgânico dentro da gente ainda que vendo de fora não pareça caber.
O corpo dá um jeito. Minha casca reclama mas incha.
Tudo faz drama dentro de mim, ainda que nada seja realmente de surpresa...sentir isso era o casaco de frio que sempre carreguei no carro...cansado, abandonado, amassado, sujo, velho...mas, de repente, tudo isso desistente tem serventia e a vida te abraça. O guarda-chuva do porta-malas. A bolsa falsa do assalto que minha mãe mandava eu ter embaixo do banco do passageiro.
Sentir isso são os trocos que você guarda pra emergência.
Amar grande é gastar reservas e ainda assim ter coragem pra dar o que não se tem.
Amar grande é ter vertigem no chão mas sentir um chamado pra voar.
Amar grande é essa fome enjoada ou esse enjôo faminto.
É o soco do bem na barriga.
É mostrar os dentes pra se defender mas acaba em sorriso.
É o sal que carrego no fundo falso da bolsa pra quando eu não aguentar a vida. É o açúcar que carrego junto..É tudo que pode sair do controle.
É meu corpo caindo...e as almofadas de várias cores pra me dizer que pode dar certo.

2 de jan. de 2013

"Tenho medo de terminar sozinha.
Tenho medo de ser sempre amiga, irmã e confidente, mas nunca o ‘tudo’ de alguém."
 
 
 


 
 
(...)Queria saber onde estão aquelas pessoas de verdade, que a gente não compra mas também não vive sem.
Aquele amigo que mudou para o outro lado do mundo mas você não pensa duas vezes antes de pegar o carro, o ônibus ou o avião e fazer uma visita....só olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz.

 Algumas pessoas simplesmente valem a pena.

 Queria saber onde é que está aquele tipo de namorado que você não veste para se exibir mas despe para provar só pra si mesmo o quanto é feliz...que você não desfila ao lado, mas leva dentro do peito.
 Que você não compra, consome, negocia ou contrabandeia...mas se surpreende quando ganha de presente da vida.

 Aquele tipo que você não usa para ser alguém e justamente por isso acaba sendo uma pessoa muito melhor.
 Não culpo pessoas, lugares e sentimentos que se vendem e muito menos me culpo por viver pra cima e pra baixo com minha sacolinha de degustações frugais.
É o nosso mundo moderno cheio de tecnologias e vazio de profundidades.
 Mas hoje, só por hoje, vou sair de casa sem minha bolsa....vamos ver se acabo conhecendo alguém impagável...




 
 
Combinamos que não era amor.
Escapou ali um abraço no meio do escuro..mas aquilo ali foi sono, não sei o que foi aquilo...foi a inércia do amor que está no ar mas não necessariamente dentro de nós.
A gente foi ao cinema, coisa que namorados fazem...mas amigos fazem também, não? Somos amigos.
Escapou ali um beijo na orelha e uma mão que quis esquentar a outra. Mas a gente correu pra fazer piadinha sexual disso, como sempre.Aí teve aquela cena também. De quando eu fui te dar tchau só com a manta branca e o cabelo todo bagunçado...e você olhou do elevador e me perguntou: não to esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu.
Eu sempre fui sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer.
Mas a gente combinou que não era amor.
Você abriu minha água com gás predileta e meu sabonete de manteiga de cacau. E fuçou todas as minhas gavetas enquanto eu tomava banho. E cheirou meu travesseiro pra saber se ainda tinha seu cheiro. Ou pra tentar lembrar meu cheiro e ver se ele ainda te deixa sem vontade de ir embora. Mas ainda assim, não somos íntimos. Nada disso. Só estamos aqui, reunidos nesse momento, porque temos duas coisas muito simples em comum: nada melhor pra fazer. Só isso.
É o que está no contrato...e eu assino embaixo. Melhor assim. Muito melhor assim.
Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só porque o seu chapéu é muito legal. Não deixa eu assim, deslizando pelas paredes do chuveiro de tanto rir porque seu cabelo fica ridículo molhado. Não faz a piada do vampiro só porque você achou que eu estava em dias estranhos. Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso.
Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que faz filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado.Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo.
Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre.
E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem.
 E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor.
E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora.
Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro.Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.
 
 
.Tati Bernardi.
 
 
...Vem, que eu quero te mostrar o papel cheio de rosas nas paredes do meu novo quarto, no último andar, de onde se pode ver pela pequena janela a torre de uma igreja.
Quero te conduzir pela mão pelas escadas dos quatro andares com uma vela roxa iluminando o caminho para te mostrar as plumas roubadas no vaso de cerâmica, até abrir a janela para que entre o vento frio e sempre um pouco sujo desta cidade.
Vem, para subirmos no telhado e, lá do alto, nosso olhar consiga ultrapassar a torre da igreja para encontrar os horizontes que nunca se vêem, nesta cidade onde estamos presos e livres, soltos e amarrados.
Quero controlar nervoso o relógio, mil vezes por minuto, antes de ouvir o ranger dos teus sapatos amarelos sobre a madeira dos degraus e então levantar brusco para abrir a porta, construindo no rosto um ar natural e vagamente ocupado, como se tivesse sido interrompido em meio a qualquer coisa não muito importante, mas que você me sentisse um pouco distante e tivesse pressa em me chamar outra vez para perto, para baixo ou para cima, não sei, e então você ensaiasse um gesto feito um toque para chegar mais perto, apenas para chegar mais perto, um pouco mais perto de mim.